segunda-feira, 3 de março de 2008

Futebol na roça


Nesse domingo o Gama foi até Minas Gerais e bateu o Unaí na última partida do primeiro turno. Infelizmente, mais uma vez, eu perdi a oportunidade de conhecer o Urbano Adjunto e pelo andar da carruagem devo ficar mais alguns anos sem conhece-lo. Ora, o time Unaí somou apenas um pontinho em todo o primeiro turno e é franco favorito ao rebaixamento.

Eu não pude acompanhar a partida porque tive um compromisso, tive que tocar na chácara de um amigo meu lá no Lago Oeste. Vou aproveitar a deixa e mudar um pouquinho o rumo da prosa desse blog pra uma outra paixão minha: a pesquisa e o resgate do forró-pé-de-serra. Por forró-pé-de-serra entenda praticamente toda a gama de ritmos tradicionais da cultura nordestina: baiões, xaxados, xotes, xamegos, carimbós, arrasta-pés, cocos, emboladas, frevos, maracatus, martelos, toadas, entre outros (a lista é vastíssima e o trabalho é infinito eu diria).

Toda semana eu me deparo com algo novo e inusitado e tento reproduzir para alimentar o resgate dessa cultura que eu me proponho (não sou o único nessa empreitada, há por aí outros tantos espalhados por esse Brasil, mas dou minha contribuição com muito entusiasmo e alegria).

Dessa vez descobri o tal do Manezinho Araújo, e fique muito intrigado com o fato de nunca ter ouvido falar nesse pernambucano arretado antes, não me canso de me surpreender com a minha ignorância. Ele é o compositor do clássico Dezessete e setecentos gravado por Luiz Gonzaga, entre outros tantos sucessos. Esse cabôco nascido na primeira década do século passado, desde cedo se enveredou na arte das emboladas (gênero comum em Pernambuco, bastante difundido na região litorânea do nordeste marcado por muito improviso tanto nas síncopes quanto nas letras. É comum o duelo de emboladores, lembrando os repentistas, empunhando pandeiros e ganzás e entretendo o povo principalmente nas feiras). O modo como Manezinho Araújo despontou para a fama é bastante pitoresco, quando rebentou a Revolução de 30 ele viajou com o exército para o Rio de Janeiro. Na volta para o Recife, estavam no navio por coincidência Carmem Miranda, Almirante, Josué de Barros e outros artistas. Como não poderia deixar de ser foi organizado um show a bordo e Manezinho Araújo acabou se apresentando depois dos insistentes pedidos dos seus colegas. O resultado foi um sucesso, a rapaziada foi ao delírio com suas emboladas cômicas e satíricas com muito ritmo e fôlego, o cabra acabou recebendo a promessa de ser lançado para o público do país.

Pra variar esse lançamento se deu no Rio de Janeiro, a cidade que recebeu praticamente todos os grandes artistas nordestinos e os lançou para a fama nacional. No meio da década de 50 abandonou a música, desapontado com o estrangeirismo que estava invadindo o cenário musical brasileiro. Montou um restaurante no Rio, o Cabeça Chata, um dos primeiros a divulgar a culinária regional nordestina, senão o primeiro. Depois ainda virou pintor primitivo e continuou divulgando a cultura nordestina. O sujeito não era fraco não!

Segue o link de uma embolada gravada em 1941: Futebol na roça, o maior barato!

http://www.brasilemvinil.com/faixa.asp?id=9030

Pra quem se animar mais a conhecer a história do Manezinho Araújo vale ler o livro “Nova História da Música Popular Brasileira: Manezinho Araújo e os nordestinos”. A figura que ilustra essa postagem é uma gravura do Manezinho que achei por sorte, “Mulher com balões”.

3 comentários:

Gabriel "Pardal" Carneiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Gabriel "Pardal" Carneiro disse...

Agora sim!! E aí Huguera.... Passei aqui só pra mandar um abraço e lhe perguntar porque não aparece mais na pelada. Aproveito pra dizer que gostei muito do Manézinho ..... Ah, agora também entrei nesse mundo digital, meu blog é gabrielpardalcarneiro.blogspot.com . Um abraço, até mais. Quando quiser tocar é só dar um toque!

Andrecatuaba disse...

É, o Brasil é infinito pra dentro! Tem tanta coisa nesse país continental, tanta história, uma cultura tão rica, que mesmo passando a vida fuçando carimbós e xaxados e lendo Câmara Cascudo, não dá pra conhecer a metade...